A probabilidade de cegueira devido ao glaucoma, doença ocular grave, diminuiu quase pela metade desde 1980, de acordo com um estudo publicado na Ophthalmology, revista da Academia Americana de Oftalmologia. Os pesquisadores apontam que os avanços no diagnóstico e na terapia são as prováveis causas para a queda, mas ainda existe o temor que numa proporção significativa de pacientes a doença continue progredindo até chegar à cegueira.
O glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível em todo o mundo. Nos Estados Unidos afeta mais de 2,7 milhões de pessoas com mais de 40 anos e 60,5 milhões de pessoas no mundo. Mudanças significativas nos critérios de diagnóstico, novas terapias, bem como melhorias nas técnicas de gestão do glaucoma têm beneficiado os pacientes individualmente, mas os efeitos dessas mudanças sobre as taxas de deficiência visual em um nível mundial ainda era incerto.
Este novo estudo, realizado por uma equipe da Clínica Mayo, foi o primeiro a avaliar as mudanças de longo prazo no risco de progressão da doença para a cegueira e a incidência da população afetada pela cegueira relacionada com o glaucoma. Ao identificar as tendências epidemiológicas do glaucoma, os pesquisadores esperavam obter insights importantes sobre as melhores práticas para a distribuição dos recursos de saúde, bem como abordagens de gestão da doença para populações inteiras.
Para isso, os pesquisadores revisaram todos os casos incidentes (857 casos no total) de glaucoma de ângulo aberto, a forma mais comum da doença, diagnosticados em Olmsted County, Minnesota, entre 1965-2009. Eles descobriram que, em 20 anos, a probabilidade e a incidência de cegueira da população devido ao glaucoma de ângulo aberto, em pelo menos um dos olhos, tinha diminuído 25,8% para os indivíduos diagnosticados entre 1965 e 1980, e 13,5% para os pacientes diagnosticados entre 1981 e 2000. A incidência de cegueira da população nos 10 anos de diagnóstico também diminuiu de 8,7% para 5,5%, para aqueles grupos, respectivamente. No entanto, 15% dos pacientes diagnosticados mais recentemente ainda progrediram para quadros de cegueira.
“Os resultados, embora extremamente encorajadores, tanto para aqueles que sofrem com glaucoma, quanto para os oftalmologistas que cuidam desses pacientes, sugerem que as melhorias no diagnóstico e no tratamento têm desempenhado um papel fundamental na melhoria dos resultados”, observa o oftalmologista Virgílio Centurion.
“Apesar desta boa notícia, o número de pacientes que continuam a ficar cegos devido ao glaucoma de ângulo aberto ainda é inaceitavelmente alto. Isto é provavelmente devido ao diagnóstico tardio, à nossa compreensão incompleta do glaucoma e à falta de aderência ao tratamento por parte dos pacientes. Por isso é fundamental que a pesquisa sobre esta doença devastadora continue evoluindo e que todos os oftalmologistas permaneçam vigilantes na procura de sinais precoces de glaucoma durante os exames de rotina”, defende a oftalmologista Márcia Lucia Marques, especialista em glaucoma.
Detecção precoce é chave para retardar a progressão do glaucoma
Dentre os 60,5 milhões de pessoas no mundo que são portadores de glaucoma, apenas uma minoria sabe que tem a doença. Muitas vezes denominada de "ladrão furtivo da visão", o glaucoma não apresenta sintomas perceptíveis em seus estágios iniciais. “A perda de visão avança de uma maneira tão gradual que as pessoas afetadas pela doença muitas vezes desconhecem que tem o problema até que a sua visão já esteja completamente comprometida”, explica a oftalmologista.
A recomendação médica em relação ao glaucoma é agir preventivamente. Todos os adultos com mais de 40 anos devem anualmente realizar um exame ocular completo, que inclui um exame de fundo de olho detalhado, pois este é o momento em que os primeiros sinais de doenças e as primeiras alterações na visão podem começar a aparecer. Já algumas pessoas estão em maior risco de desenvolver glaucoma e podem precisar ir ao oftalmologista mais frequentemente, especialmente para testes de glaucoma. Esses fatores de risco para o glaucoma incluem:
• Pressão dos olhos elevada;
• Idade avançada;
• História familiar de glaucoma;
• Ascendência africana ou etnia latina;
• Área central da córnea mais fina;
• Pressão arterial baixa;
• Diabetes mellitus tipo 2;
• Miopia;
• Mutações genéticas.
"Ao longo dos anos, nos deparamos com pacientes que apresentavam fatores de risco claros para o glaucoma, mas que não sabiam desses riscos. É lamentável pensar o quão diferente a vida dessas pessoas poderia ser se elas tivessem tomado conhecimento desses riscos e tivessem feito um exame oftalmológico completo antes. É crucial que as pessoas saibam que uma vez que a visão é perdida em função do glaucoma, ela não pode ser restaurada”, informa Márcia Lucia Marques.